Eu quero voltar.
Eu estava no fundo do poço e era tudo tão húmido. Às vezes
sentia medo e alguma raras vezes sentia dor, mas na maioria das vezes não.
Era frio devido à solidão, era húmido devido às lágrimas.
O que às vezes me dava medo não era o escuro, eram as vozes.
O que raras vezes doeu não foi à falta de companhia, foram
os cortes.
As vozes vinham de vários lugares, muitas eu conhecia e eram
essas que diziam as piores coisas.
Pensei que estava louca, que a insanidade tinha tomado conta
do meu ser. Aquilo estava se tornando insuportável.
Então, encontrei um objeto que me chamou muita atenção, era
tão brilhante e parecia tão afiado que eu não resisti. E isso virou um ritual
que se repetia todos os dias.
Toda vez que via sangue saído de mim, as vozes se calavam e
eu sentia uma paz inexplicável.
No dia mais húmido de todos eu adormeci. Quando acordei
estava na beira de um enorme penhasco. Lá também era frio e húmido, as vozes
continuavam a falar e meu ritual se repetia.
Sempre que eu olhava para baixo sentia uma enorme vontade de
pular e quando as vozes aumentavam essa vontade também aumentava, mas minha
covardia me impedia de pular.
Adormeci novamente e acordei aqui.
Aqui é quente muito quente, mas ainda existe humidade, e tem
muitas pessoas (pessoas até demais).
Aqui as vozes falam mais alto e com mais frequência, existe
falsidade e hipocrisia e o grande fluxo de pessoas me incomoda e faz com que eu
me sinta mal.
Eu quero voltar pro poço, pois sozinha era tudo muito mais
fácil, apesar das vozes, do frio e da humidade eu tinha minha solução pra
amenizar tudo isso!
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